
Eu nasci em junho de 1975.
Nesse ano o mundo acompanhava o final da guerra do Vietnã que terminou deixando mais de 1,1 milhão de vietnamitas mortos. O ano seguinte no Brasil seria “o ano que não terminou”, marcado pela morte de JK e Jango, criando marcos históricos na política nacional. Eu era um bebê quando os Steves, Jobs e Wozniak, se juntaram e criaram a Apple, mudando para sempre os comportamentos humanos para tecnologia e em setembro do mesmo ano chegava ao fim a revolução proletária na China.
Em menos de doze meses, os anéis de Urano eram descobertos, ocorre o desastre aéreo de Tenerife e Elvis Presley morria em sua mansão, deixando uma horda de fãs mergulhados na tristeza, mas pensando pouco sobre as drogas.
Entre 1978 e 1982, enquanto eu ainda era uma criança, morreram dois papas, João Paulo Segundo foi eleito, a revolução do Irã explodiu, Margaret Thatcher se tornava uma das mulheres mais poderosas do mundo, caía a União Soviética, a Sony lançava o Walkman, Saddam Hussein assumia o poder onde ficaria por 24 anos, a Itália vencia a copa do mundo, Nelson Piquet se tornava bicampeão mundial de Formula 1 e acontecia a primeira videoconferência da história das telecomunicações. É, foi uma tempo agitado.
Vida que segue, em 1983 roubaram a Taça Jules Rimet, o Papa João Paulo II assinaouo novo código de direito canônico da Igreja Católica, nascia a TV Manchete e Madonna lançou o primeiro disco com singles que mudariam a cena pop no mundo inteiro.
No ano seguinte eu vi o início do movimento das Diretas Já, vi George Orwell publicar o livro intitulado 1984 que daria origem ao Big Brother, o Macintosh surpreende o mundo, eu vi o CD player, Indiana Jones, vi a soviética Svetlana Savitskaya caminhar no espaço e o vi o ano terminar com a morte de Indira Ghandi e a descoberta da AIDS. Tempos turbulentos, assustadores talvez para uma criança.
De 1985 a 1990, o clip de Take on me do A-Ha arrebatou a juventude, aconteceu o primeiro Rock in Rio, o Live Aid entra para história, morre Tancredo Neves levando Brasil às lágrimas, o voo 123 da Japan Airlines cai matando 524 pessoas, destroços do Titanic são encontrados pela primeira vez, e o Super Mário chega para deslumbrar os jovens e iniciar uma trajetória absurdamente brilhante para os jogos e entretenimento, que perdura até hoje. Eu dancei as baladas doces do New Kids on the Block enquanto terminava o ensino médio.
Eu vi a queda do muro de Berlim em 1989 e o show antológico The Wall, com a voz potente do Roger Waters, alegrar o mundo direto da Potsdamer Platz eternizando o momento e o Pink Floyd.
A década de 1990 foi marcada pela globalização, a ampliação da internet, o fim da Guerra Fria, a Guerra do Golfo, o computador pessoal, o confisco da poupança e caras pintadas pelo Brasil pedindo o impeachment de Collor de Melo – o anti-marajá. Eu entrei para faculdade, o mundo se impressiona com a clonagem da ovelha Dolly e a sonda Galileu orbita Júpiter, desnudando o universo para nós, pequenos seres humanos, perscrutando o planeta e suas luas.
Ei vi a reunificação da Alemanha na década de 2000. Vi um operário assumir a presidência da república, acompanhei a Guerra ao Terrorismo, conflitos na Palestina, eu usei o euro pela primeira vez, eu vi o bloqueio à Cuba, vi Todo Mundo em Pânico, vi a primeira edição do Big Brother Brasil, vi a criação do Bolsa Família e Saddam ser capturado. Eu vi o tsunami provocar a destruição e morte de quase 400 mil pessoas no Sudoeste Asiático em pleno réveillon, vi a morte de Fidel e seu funeral, o trem bala, o primeiro presidente negro dos Estados Unidas da América e o homem mais rápido da história, Usain Bolt, correr os 100 metros rasos em 9,58 segundos, o tempo que você levou para ler esse parágrafo.
Eu vi as imagens chocantes dos aviões se lançando contra o World Trade Center no 11 de setembro, em pé numa fila de banco, com uma conta na mão para pagar.
Na década seguinte, de 2011 a 2020, eu vi a Primavera árabe, o desastre de Fukushima, a partícula de Deus, o atentado ao jornal Charlie Hebdo , o acordo de Paris, a Copa do Brasil com aqueles malditos 7 x 1, o Museu Nacional em chamas e em chamas também vi a Catedral de Notre Dame.
Na manhã do dia 11 de fevereiro de 2013 eu vi estarrecida a renúncia do papa Bento XVI.
Eu visitei Canadá, Alemanha e EUA e vi a beleza estonteante de Praga. Eu vi a fuga em massa de líbios para a costa italiana em barcos de plástico e lá mesmo o mundo viu o triste afundar do Costa Concórdia. Eu vi chorando a foto eterna e triste do menino de 3 anos morto numa praia turca comover o mundo inteiro.
Vi o discurso de Snowden direto de algum lugar desconhecido, vi Obama entregar a faixa para um louco, vi 33 homens sobreviverem enquanto o Chile chorava suas mortes, vi a capital do Haiti arrasada pelo terremoto, vi a fronteira de Bangladesh apinhada de gente e lixo fugindo da guerra e da fome, vi crianças sendo tiradas de suas mães no pé do muro na divisa com o México.
Vi a captura de Bia Laden e todos os filmes que vieram dele, vi a morte de Diana e o casamento de seus príncipes, vi a luta de Theresa May contra o inevitável Braxit. Eu vi mais guerras que em toda vida, eu vi a Amazônia queimar e queimar também a Califórnia.
Vi ataques terroristas sangrarem França, Alemanha e Iraque, vi um show embalado a tiros de fuzil nos Estados Unidos.
Eu vi o Carnaval se despedir, vi uma mulher ser presidente do Brasil, vi uma menina com autismo reclamar o mundo, eu vi Malala, Susan Boile, vi a força da Chanceller alemã se divertir numa careta.
Em 2020 eu vi o último suspiro de George Floyd, vi o fogo ameaçar o mundo queimando suas florestas, vi a ciência renascer, a direita tomar de volta pedaços do globo.
Vi povos inteiros se deslocando numa massa empoeirada enquanto o Movimento Black Lives Matter revolvia o povo.
Vi mais tigres presos em cativeiro nos EUA que soltos em toda terra.
Via as fotos em preto e branco de Salgado ganharem o muno.
Eu vi um vírus colocar de joelhos toda a humanidade.
@todososdireitosreservados
Ana Morais

Maravilhoso artigo Ana! Eu vi tudo isso também! Gratidão! Valor inestimável! definem suas palavras! Abraço!
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Obrigada! Estamos atravessando o tempo de um jeito único não é! Obrigada pelo apoio!
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